sábado, 23 de outubro de 2010

Sem parar

Chuvas fortes no inicio da semana e uma greve na universidade local dificultaram o andamento das filmagens, mas conseguimos entrevistar um etnomusicologo e um musico, ambos ligados ah cena do highlife e do afrobeat. Hoje faremos imagens da cidade de Acra, e batemos um papo como prof. Carlos Moore sobre a historia recente de Gana.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Acra, capital do panafricanismo?

Chegamos há três dias em Acra, capital de Gana, cidade que também pode ser chamada de capital do panafricanismo devido a sua história. Foi aqui que, em 1957, o lider Kwame Nrumah declarou a primeira independência de uma nação subsaariana. Foi também a partir de Acra que a mensagem de unidade africana correu pelos quatro cantos do continente dando origem a hoje chamada União Africana precedendo inclusive a União Europeia.

Acra é  mais desenvolvida e organizada que a cidade deLagos, na Nigéria, embora Gana busque hoje a posição de líder regional na África Ocidental. Não foi por acaso que o país foi escolhido por Obama para fazer seu primeiro discurso em um país africano mesmo tendo sua origem no Quênia, que também é uma potência econômica, mas fica situada na África Oriental.

Em conversa com moradores locais, descobrimos que a cidade e o país poderiam ser melhores se não fosse pelo golpe militar que tirou Nkrumah do poder. Os moradores dizem que quase toda a infraestrutura que encontramos aqui (aeroporto moderno, ruas bem pavimentadas, eletricidade etc ) datam da gestão de Nkrumah, a partir da década de 1960.

Nos próximos dias iremos filmar personalidades que vão falar sobre a história de Kwame Nkrumah; faremos também outras pautas relacionadas ao panafricanista W.E.B. Dubois, um intelectual afroamericano que decidiu passar seus últimos dia aqui, e amigos de Fela Kuti que vieram para Gana.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

`Stamos em pleno mar

Filmar na Nigéria é uma experiência angustiante. Diante de imagens impactantes e situações que desafiam a compreensão - mesmo dos baianos surrados - nos sentíamos de mãos atadas, seja pela urgência do conflito urbano, seja pela simples imposicao das autoridades. Nossa alternativa foi registrar de dentro do veículo que nos foi disponibilizado pelo Ministerio do Turismo do estado de Lagos, ou do táxi que nos conduziu pela capital, Abuja. Nada satifsatorio - muito limitador de nossas possibilidades.

Saimos a salvo, contudo, ao contrário de uma colega alemã da agência Deutsche Welle, cuja câmera fora roubada pelo taxista contratado pela emissora na capital Abuja: para ter certeza de que não haveria resistência, o motorista fez questão de esfaqueá-la nos dois braços.

Estamos em Acra, capital de Gana. Esperamos melhor sorte.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Felabration com Femi Kuti e irmãos

Texto André Santana 
Fotos Lucas Santana

Nossa última gravação na Nigéria registrou o show de Femi Ransome-Kuti, filho mais velho de Fela Kuti, no encerramento do Felabration 2010 - Viva África, festival realizado anualmente para promoção do afrobeat e cultura africana, baseado no legado deixado por Fela Kuti. O evento foi realizado no New Afrika Shrine, casa de shows já citada neste blog no post "Nigéria, finalmente".

Sem dúvida, foi o momento mais esperado do festival. Com beleza e animação peculiar, as oito dançarinas de Femi subiram ao palco com roupas e pinturas semelhantes às das dançarinas de Fela. Além de dançar e cantar com muita sensualidade, as moças ainda tocam percussão. Pouco antes do encerramento, três filhos de Fela cantaram juntos - Femi e Yeni, do primeiro casamento com Remi Taylor, e Seun, fruto da união de Fela com uma das 27 dancarinas com as quais ele se casou em uma única cerimônia, no ano de 1978. É! Essa é uma história e tanto, merece ser contada em outro post.

Embora carregue grande influência musical de seu pai, Femi não incluiu músicas de Fela no repertório da noite. A proximidade ideológica, entretanto, existe e pode ser percebida nos discursos políticos em prol da integração africana sempre citados durante o show. Para nosso companheiro de expedição, Paulo Rogério, a música de Femi é de composição "mais comercial". Podemos até compará-la, de forma rasteira, a axé music, em Salvador, no sentido de ambas serem um ritmo feito para dançar e animar grandes plateias. E foi realmente o que aconteceu: todo mundo cantou e dançou durante o show. Com canções menos experimentais que os originais acordes do afrobeat criados por Fela, Femi consegue empolgar quem o assiste.

Ao final, Yeni Kuti, coordenador do festival, mandou um recado para o Brasil: "No próximo ano, queremos artistas brasileiros na programação do Felabration". Com certeza será uma honra. Esperamos estar aqui novamente para prestigiar nossos artistas em solo africano.

[Discografia Femi Kuti]
No Cause For Alarm? (1989, Polygram)
M.Y.O.B. (1991, Meodie)
Femi Kuti (1995, Tabu/Motown)
Shoki Shoki (1998, Barclay/Polygram/Fontana MCA)
Fight to Win (2001, Barclay/Polygram/Fontana MCA/Wraase)
"Ala Jalkoum" (on the album Rachid Taha Live) (2001, Mondo Melodia)
Africa Shrine (2004, P-Vine)
Live at the Shrine (Deluxe Edition DVD) + Africa Shrine (Live CD) (2005, Palm Pictures/Umvd)
The Best of Femi Kuti (2004, Umvd/Wraase)
Femi Kuti The Definitive Collection (2007, Wraase Records) 
Grand Theft Auto IV soundtrack (2008, IF99)
Hope for the Hopeless (2008)
Day by Day (2008, Wrasse Records)

domingo, 17 de outubro de 2010

Escola

Fotos André Santana

Mrs F. Kuti Nursery & Primary School em Abeokuta, estado de Ogun, Nigéria. A equipe visitou o centro educacional da família Ransome-Kuti na segunda metade do século 20. Aqui Fela Kuti fez seus primeiros estudos antes de partir para a Inglaterra, onde cursou música. A recepção foi calourosa - chegamos bem no horário encerramento da aula. Tivemos oportunidade de conhecer diversos estudantes, todos com uniforme composto por camisa branca, calção marrom, meias brancas e sandália.

A menina da foto acima traz em seu rosto uma das caracteristicas da etnia yoruba: cicatrizes de cortes que marcam ascendencia familiar. Duas nas bochecas e três no queixo.

Cultura

Comum ver em África (Angola, Nigéria, Costa do Marfim etc) mulheres carregando todo tipo de mercadoria na cabeça. E como se não bastasse tamanho equilíbrio, ainda trazem o filho nas costas, amarrado com o suporte de um tecido colorido. São caixas e tabuleiros com produtos a serem comercializados, como garrafas de água e sucos, raízes e frutas como inhames, banana (que aqui tem a casca verde, o que difere da plantain - a nossa banana da terra)  e o que mais for preciso. Hábito tão comum incorporado, inclusive, nas placas de sinalização, nas quais, frequentemente, pudemos ver a imagem de uma mulher com um tabuleiro na cabeça acompanhado por um sinal de proibição, certamente para evitar confusão causada pelo vaivém de carros, pedestres ... e, é claro, as mulheres com seus tabuleiros. Manicures carregam todos os materiais de trabalho (esmalte, tesoura, algodão) na cabeça, facilitando para que o serviço seja realizado em em qualquer luga - na rua, nos pontos de ônibus ou nas residências das clientes. Na foto, nosso cinegrafista Mateus Damasceno e o jornalista André Santana conseguiram o consentimento de uma moradora de Lagos para fazer o registro, o que não é nem um pouco comum por aqui. 

Lemi Ghariokwu

Postado por Erick Robert

Aqui em Lagos, filmamos com o artista plastico nigeriano Lemi Ghariokwu, responsavel pelas capas dos discos de Fela Kuti, do qual era muito amigo. Lemi fez tambem a capa da primeira edicao africana do livro `Fela: this bicht of a life`, de Carlos Moore, que esta sendo lancada neste momento na Nigeria.  

Conhecemos o atelie de Lemi e ficamos impressionados com os quadros pintados por ele. Sao desenhos cheios de referencias a cultura e politica da Nigeria, com muitas cores e palavras de impacto. Lemi se considera um artista contemporaneo e nao gosta do rotulo limitador de artista africano. A arte de Lemi eh reconhecida em todo o mundo. Uma de suas obras, Anoda Sistem, integra o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, um dos mais disputados do mundo. Lemi tambem pintou capas de discos de outros artistas, como o reggaeman jamaicano Bob Marley. 

A foto acima foi tirada no aeroporto Murtala Muhammed, de Lagos, quando Carlos Moore e Lemi Ghariokwu se encontraram apos 28 anos. Na foto abaixo, toda a nossa equipe no estudio de Lemi.